08/09/2009

DISCURSO CÊNICO DA PERIFERIA

No sábado, dia 29/08, a galerinha da oficina de CENOGRAFIA, lançou-se em uma pesquisa de campo, para o reconhecimento da arquitetura, da tipografia e da identidade visual mais frequentemente utilizada nas ruas da comunidade do Campo Limpo, coletando referências de linguagens, conceitos e documentando tudo através de filmagens e fotos.









- A trupe na comunidade. Fotos: Maré Alta.









- "Arquitetura" da periferia. Fotos: Maré Alta.

Com algumas lâminas de vidro e folhas plásticas fixadas, sua trupe podia copiar manualmente tudo que viam, escolhendo os detalhes que lhes eram mais interessantes. Colocavam as tais lâminas em frente ao que desejavam desenhar, e começavam a copiar a cena na folha plástica. "Pensei nessa ferramenta, principalmente para que experimentassem a facilidade que o desenho traz para se projetar algo e auxiliar aqueles que não possuem uma familiaridade com o lápis." - Aponta Jonas com contentamento.

Com isso poderiam ter maior facilidade em levantar informações sobre a cultura imagética local e trabalharem o seu olhar sobre o que a periferia "discursa" em suas ruas, muros, postes, fios de alta-tensão, grafites, transeuntes... Imaginarem sua história, como se deu o seu crescimento geográfico, sua composição visual, a cor alaranjada dos tijolos aparentes das casas em contraste com o cinza do concreto, do asfalto e a imensidão de muros pintados com campanhas políticas. Seria esta a identidade visual da periferia? O que a compõe? De onde vem? O que gostaríamos de destacar dela? Estas são algumas das questões que JS tenta extrair de seus pupilos.







- JS mostrando sua idéia bacana. Fotos: Maré Alta.






- A trupe "caiu pra dentro". Fotos: Maré Alta.





- Alguns resultados. Fotos: Maré Alta.

Voltando a sala de aula, expuseram tudo o que encontraram e discutiram sobre todo o material captado, num bate-papo sobre esse novo olhar para a comunidade, sobre o que foi "revelado" da estética local e o mais importante o que eles fariam com tudo isso e como expor tais descobertas?

Ao conversar com o JS, pude perceber a sua preocupação em não somente aguçar o olhar dos nossos jovens participantes, sobre os assuntos relacionados a oficina, mas também criar links, pontes, relações (assim como ele mesmo descreve) com a falta de repertório dos jovens sobre qualquer assunto da vida que seja, sobre a falta de interesse em aprender algo, sobre a ausência em si mesmos. Em suas imersões na oficina de CENOGRAFIA, busca ir além da disciplina proposta, procurando potencializar o desenvolvimento cultural de seus pupilos e torná-los cidadãos mais atuantes em nossa sociedade.

Ele mesmo desabafa: "Ainda existe um ceticismo muito grande entre as pessoas, de que quem faz arte morre de fome e não se torna alguém na vida. Posso não formar arquitetos, designers, artistas em minhas oficinas, mas procuro fazer com que ao saírem daqui, tenham ganhado um olhar diferenciado sobre a sociedade e suas buscas individuais."

Ele tece esse comentário ao perceber o pouco interesse sobre projetos culturais, por parte dos jovens das comunidades locais, quando os incentivos para estes andam crescendo e ganhando mais notoriedade. O jovem parece não desejar se envolver em projetos como este, por talvez não terem repertório, por não possuírem ferramentas suficientes para absorver diferentes tipos de informações. Parecem estar acostumados com o prático, o "mastigado", o enlatado, o pronto.

De qualquer forma, buscando "fisgar" esses jovens, trabalhos como este, desenvolvido pelo Jonas, tentam resgatar algo que o ser - humano tem de mais importante: A reflexão! Só ela é capaz de abrir questionamentos, propicia mudanças, sensibilizações e movimentações no que se refere a procura e fomento de conhecimento, transformações em qualquer âmbito e a integração entre as pessoas.

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